Afinal, o que é biliteracia?

A transferência de estratégias de escrita entre línguas é comum em espaços de educação bilíngue, pois as crianças experimentam padrões e formas de linguagem oral e escrita tentando dar sentido às línguas a que estão expostas. Proporcionar aos alunos oportunidades para desenvolverem a literacia plena nas duas línguas, promovendo práticas que estejam em consonância com os estudos na área, é papel das escolas. 

Mas, afinal, o que é BILITERACIA?

Primeiramente, faz-se importante entendermos o conceito de literacia como o processo cognitivo de ler e escrever (Alves e Finger, 2022) e, como explica Morais (2020),  um conjunto de competências linguísticas e habilidades cognitivas que acompanham o indivíduo leitor ao longo da vida. 

A partir dessa perspectiva, entendemos biliteracia como o desenvolvimento da literacia em duas línguas, ou seja, o processo de aprender a ler e escrever e desenvolver uma capacidade linguística de se expressar com palavras escritas. 

 Em poucas palavras, a biliteracia está relacionada ao processo de aprender a ler e escrever e desenvolver uma capacidade linguística de se expressar com palavras escritas. Como aponta Gort (2019, p. 231).  Existem alguns processos-chave que são a base para aprender a ler e escrever, como codificação e decodificação. Pérez & Torres-Guzmán, 1996, p.54) definem billiteracia como “a aquisição e aprendizagem da decodificação e codificação de e em torno de impressão usando dois sistemas linguísticos e culturais para transmitir mensagens em uma variedade de contextos”. A codificação e a decodificação representam uma etapa desse processo, que também é visto como um continuum por Hornberger (2003), visto que as habilidades de linguagem oral e escrita de um indivíduo mudam dinamicamente ao longo da vida de uma pessoa, dependendo de uma série de elementos. 

Como se dá este processo em uma escola bilíngue?

Em um currículo bilíngue, essas habilidades são desenvolvidas ao longo da escolaridade, em um processo contínuo. Na Educação Infantil, a consciência dos sons é essencial. Brincar com rimas, canções, com os sons iniciais e finais, enfim, explorar oralmente os sons das duas (ou mais) línguas a que as crianças estão expostas é fundamental para a posterior relação entre os fonemas e grafemas.

No período da alfabetização, especificamente, tem-se como foco os processos de manipulação de símbolos gráficos e dos sons associados a eles.  Mas esse processo não se acaba com a alfabetização: o desenvolvimento de habilidades de escrita, o uso da pontuação,  coerência e coesão, relação entre parágrafos, uso de conectivos, gênero textual, são pontos essenciais e que precisam ser ensinados e explorados em sala de aula e, mais uma vez, o que se aprende em uma língua pode ser aproveitado na outra. 

A biliteracia pode trazer danos aos alunos?

Aprender a ler e escrever em duas línguas não é um fenômeno novo no mundo. Há vários estudos com bilíngues emergentes que apontam resultados favoráveis à biliteracia (Dworin; Moll, 2006; Edelsky, 1986; García, 2009; Soltero-González et al., 2016,  Lemke & Finger, 2022, no prelo), reforçando a ideia de que há uma interrelação entre o desenvolvimento de habilidades de leitura entre as línguas da criança e de que as práticas de literacia realizadas se potencializam, não causando danos à aprendizagem dos alunos.  

Dica de leitura

Se você quiser saber mais sobre o assunto, fica a dica: